Baseando na ideia de que todos os seres vivos (humanos, plantas, animais e planeta) precisam de cuidados e atenção para sobreviver e no reconhecimento das interdependências entre seres humanos e natureza, encontramos o ecofeminismo.

A palavra ‘ecofeminismo’ surgiu em 1974, no livro Le feminismo ou la mort de Françoise D’Eaubonne. Este termo remete a associações entre ecologia e feminismo.

Diante das devastações do mundo natural, o ecofeminismo se propõe como uma alternativa para pensar o mundo e viver fora dos sistemas exploratórios e de dominação.

O ecofeminismo enxerga o patriarcado como ponto comum na história da opressão contra as mulheres e da destruição ambiental.

De maneira, pensar ecofeminismo é denunciar as desigualdades e dominações que são sustentadas pela relação desigual entre poderes. Portanto não transgredir de forma radical as relações de poder pouco contribui pela libertação e comunhão de todos.

O objetivo principal do ecofeminismo é promover modos de vida mais harmoniosos, dignos e criativos, através do resgate da cultura do cuidado.

Temos como valores centrais: cuidado, reciprocidade, cooperação e complementariedade.

É uma crítica radical às estruturas de poder que regem a sociedade em que vivemos.

Através de uma profunda revisão crítica o ecofeminismo olha para a ciência produzida até a atualidade perguntando o como, o porquê e o para quem ela é feita. Da mesma forma pensa os diversos tipos de conhecimentos que regem as culturas.

Reconhece que não há neutralidade científica mas que o conhecimento sempre vem acompanhado de pressupostos, desde os temas considerados importantes aos vieses pelos quais são pensados.

A questão epistemológica é um ponto muito importante dessa cosmovisão, pois o conhecimento é utilizado como mecanismo de poder, e se apropriar dos conhecimentos é um ato revolucionário.

Enquanto histórica e sistematicamente os homens ocuparam os papéis de cientistas e filósofos, os agentes produtores de cultura, as mulheres e a natureza são desvalorizadas. Por isso vivemos em um mundo de verdades masculinas.

Há muito, os saberes femininos e naturais foram subjugados como inferiores. As mulheres apenas reproduzem aquilo que por outros foi determinado.

Porém o conhecimento é sempre relativo ao mundo a partir do qual se conhece e a partir daqueles a quem coube o ato de conhecer.


Meu fazer psicológico abarca tais princípios quando considero imprescindível a recuperação daquilo que é conhecido pelos meus pacientes. Quando suas experiências do mundo vão dizer mais do que teorias distantes no tempo e no espaço.

Com uma postura ecofeminista compreendo meus pacientes como agentes de suas próprias histórias e como agentes da história do mundo. Vejo eles como partes do ecossistema e vejo como os abalos sistêmicos do mundo os afetam. Como células de um organismo.

O ecofeminismo guia minha prática clínica quando penso a importância de que cada ser encontre seu lugar e propósito no mundo. Com senso de comunidade e integralidade que espanta a solidão violenta do mundo individualista.

Não é uma cosmovisão exclusivamente feminina, como se pode pensar. Mas a partir de tais compreensões vejo como homens e mulheres precisam, por outro lado, estar unidos em parceria e companheirismo, uns com os outros e com os demais seres do nosso ecossistema.

Marina Lúcio Psicóloga / CRP MG 04/74007